O cartão de crédito, é uma ferramenta financeira cada vez mais comum, que oferece uma conveniência tentadora: comprar agora e pagar depois.
No entanto, por trás dessa facilidade aparente, escondem-se algumas armadilhas financeiras que podem levar ao endividamento.
Muitas pessoas já se depararam com situações em que a utilização imprudente do cartão de crédito resultou em perdas financeiras ou no acúmulo de dívidas difíceis de quitar.
Nesta primeira parte vamos explorar algumas armadilhas da utilização do cartão de crédito e como evitá-las, permitindo que o utilizemos de forma consciente e vantajosa.
Na segunda parte do artigo, abordaremos vantagens e dicas para usufruir dos benefícios do cartão com responsabilidade, entre outros assuntos.
“O cartão de crédito é como uma faca afiada – pode ser uma ferramenta útil ou pode causar danos significativos, dependendo de como é utilizado.”
O que é o Cartão de Crédito?
O cartão de crédito é uma forma de pagamento que permite aos titulares efetuarem compras ou levantarem dinheiro mesmo que não tenham saldo disponível na conta corrente.
Ao adquirires um cartão de crédito, a instituição financeira é obrigada a fornecer a (FIN) Ficha de Informação Normalizada e as condições gerais de utilização do cartão.
Antes de assinares o contrato, é importante que leias atentamente as informações. Isso permitirá que estejas plenamente ciente dos termos e condições do cartão, incluindo taxas, juros, limites de crédito, obrigações, entre outras informações, garantindo que tomas uma decisão informada e responsável ao adquirires o cartão de crédito.
Determinação do limite do crédito
No momento da aquisição é estabelecido um limite de crédito mensal disponível para o titular do cartão, também conhecido como ‘plafond’, esse valor é acordado entre o titular e a instituição financeira.
Esse limite é determinado com base em diversos fatores, incluindo o histórico de crédito e a estabilidade dos rendimentos do titular.
Tem atenção, que é do interesse da instituição financeira que o limite do crédito seja o mais alto possível, dentro daquela que é a expectativa da instituição referente a capacidade da tua gestão de endividamento.
De uma forma prática, imaginemos que estás a adquirir um cartão de crédito apenas para efeitos de concessão de melhor spread contratado (cross-selling) e a instituição financeira, dentro do estudo efetuado do teu perfil, propõe-te um limite de 1.500,00€ e achas que é demasiado. Neste caso, podes propor, por exemplo, que o limite não ultrapasse 1.000,00€. Desta forma, estarás a criar condições para limitar as possibilidades de endividamento.
Pagamento do Cartão de Crédito
Ao adquirirmos um cartão de crédito, são definidas algumas regras para as questões de pagamentos como:
- método de pagamento: pode ser, por exemplo, efetuado diretamente num Multibanco; através de transferência bancária ou débito direto;
- data de pagamento do valor devido; e
- modalidade de pagamento. Poderás reembolsar o montante total utilizado ou apenas uma parte dele. No caso do:
- reembolso parcial: é necessário definir uma percentagem mínima mensal de pagamento do montante utilizado, o que implica o pagamento de juros sobre o montante utilizado e não pago até a data de cobrança.
De realçar que, independentemente da percentagem escolhida de pagamento mínimo, poderá existir um limite monetário mínimo fixo de pagamento obrigatório. Ou seja, utilizaste apenas 5,00€ e escolheste a modalidade de 5%, e o montante mínimo fixo é de 25,00€, terás de pagar os 25,00€. Em alternativa, podes antecipar o pagamento e efetuá-lo de forma total (100% do valor utilizado), mas terá de ser feito de forma manual e antes da data de cobrança mensal (dependendo da instituição financeira, poderá ter de ser efetuado 48h antes da data de cobrança). Desta forma pagarás apenas os 5,00€, valor utilizado; - reembolso integral (pagamento a 100%) da totalidade do montante em dívida até à data de cobrança, não ficando, assim, sujeito ao pagamento de juros.
No entanto, dentro desta modalidade, poderás optar por efetuar o pagamento mínimo definido, mas terá de ser feito de forma manual e antes da data de cobrança mensal (dependendo da instituição financeira, poderá ter de ser efetuado 48h antes da data de cobrança). Desta forma, pagarás juros sobre o valor em dívida; e - dependendo da instituição financeira, poderão existir outras modalidades de pagamento.
- reembolso parcial: é necessário definir uma percentagem mínima mensal de pagamento do montante utilizado, o que implica o pagamento de juros sobre o montante utilizado e não pago até a data de cobrança.
Este é um ponto crucial para a compreensão da utilização do cartão de crédito, porque é aqui que muitos colocam na gaveta com medo de o utilizar (como já aconteceu comigo) e o resultado é pagar por teres um cartão que não é utilizado, porque pagas na mesma, de acordo com as condições contratuais.
Uns são penalizados pela má utilização ou utilização descontrolada. Outros tiram o benefício máximo da sua utilização.
Armadilhas do cartão de crédito
Juros elevados
Uma das principais desvantagens do cartão de crédito é a incidência de juros sobre o valor não pago até a data de cobrança. Os juros cobrados podem ser bastante elevados, o que pode levar a um aumento significativo da dívida em caso de pagamento mínimo ou atraso no pagamento.
De acordo com o BdP – Banco de Portugal, (Instrução n.º 12/2023) para cartões de crédito, linhas de crédito, contas correntes bancárias e facilidades de descoberto, ultrapassagens de crédito, as taxas (TAEG) Taxa Anual Efetiva Global e (TAN) Taxa Anual Nominal máximas aplicáveis no 3.º trimestre de 2023 são de 17,4%.
Isso significa, que considerando a aplicação da taxa máxima, por cada euro em dívida, terás de pagar 1,174 euros.
As taxas máximas para os diferentes tipos de crédito oferecidos aos consumidores são determinadas e divulgadas trimestralmente pelo BdP.
Endividamento descontrolado
A facilidade de utilizar o cartão de crédito pode levar algumas pessoas a gastarem além das suas possibilidades financeiras e a acumular dívidas que se tornam difíceis de pagar.
Quando existe um descontrolo financeiro, inicia-se um ciclo vicioso de dívidas, que afeta negativamente o orçamento pessoal e familiar. Sem um planeamento financeiro adequado, é fácil cair em armadilhas de gastos excessivos, resultando em dívidas crescentes e, eventualmente, em mais dificuldades para liquidar o saldo devido.
Nesses casos, os juros cobrados pelos cartões de crédito podem agravar ainda mais a situação, tornando a dívida cada vez mais pesada e difícil de quitar.
É importante manter um controlo financeiro rigoroso, estabelecer limites claros para os gastos e criar um plano de pagamento eficiente para evitar problemas futuros.
“O cartão de crédito permite comprar o que desejamos agora, mas é importante lembrar que o pagamento será uma realidade futura.”
Custos do cartão de crédito
Dependendo das instituições financeiras, alguns cartões podem ter taxas anuais, taxas de adesão, comissões por atraso no pagamento, taxas de levantamento no multibanco, taxas de pagamento nas gasolineiras, taxas de transferências bancárias e outras despesas que devem ser consideradas no momento de optares por esse meio de pagamento.
Ao considerares os juros associados ao cartão de crédito, é crucial prestar especial atenção à TAEG. Essa taxa engloba todos os custos relacionados ao crédito, como encargos de cobrança, juros, impostos, comissões, seguros obrigatórios e outras despesas. Quanto mais alta for a TAEG, maior será o montante que terás de pagar sobre o saldo devedor.
No entanto, é de salientar que os juros só serão cobrados caso não liquides integralmente a dívida dentro do período de crédito sem juros, ou seja, desde o gasto até a data de cobrança (geralmente, o prazo de 30 a 50 dias).
Para além dos custos adicionais, é importante teres em conta que ao escolheres um cartão de crédito, é essencial comparares as TAEGs oferecidas pelas instituições financeiras para entenderes os custos do crédito. Dessa forma, poderás tomar uma decisão mais informada sobre qual é o cartão mais adequado ao teu perfil financeiro e hábitos de consumo.
Falta de controlo de gastos
A utilização do cartão de crédito pode levar facilmente a uma falta de controlo nos gastos, principalmente quando os titulares não acompanham regularmente os extratos. Ao não ter uma visão clara dos gastos efetuados, torna-se difícil ter noção do montante total que será cobrado.
Sem uma gestão cuidadosa, é comum gastar mais do que o previsto, especialmente quando as compras são feitas de forma impulsiva ou sem considerar o impacto no orçamento. Essa falta de controlo pode levar a surpresas desagradáveis quando a cobrança chega, e muitas vezes pode ser difícil lidar com um montante inesperado a pagar.
O uso contínuo do cartão de crédito pode levar a uma sensação de distanciamento do dinheiro real, já que não é necessário “desembolsar” imediatamente o valor gasto. Isso pode levar a uma atitude menos consciente em relação aos gastos, levando a compras impulsivas e desperdício financeiro.
Para evitar essa armadilha, é essencial manter um registo detalhado dos gastos realizados com o cartão de crédito.
Ao acompanhares regularmente as despesas, terás uma melhor compreensão dos teus hábitos de consumo e poderás tomar decisões mais informadas sobre como utilizar o cartão de crédito de forma responsável.
Além disso, é fundamental estabelecer um orçamento claro e respeitar os limites financeiros estabelecidos, evitando assim o endividamento desnecessário e garantindo uma gestão financeira saudável.
“Com grandes poderes de compra vêm grandes responsabilidades de pagamento.”
Pagamentos mínimos
Optar pelo pagamento mínimo pode parecer uma solução tentadora para aliviar as despesas mensais, especialmente em momentos de maior aperto financeiro. No entanto, essa é uma armadilha muito perigosa que pode levar a consequências financeiras desastrosas a longo prazo.
Ao escolheres pagar o valor mínimo exigido, estarás apenas a cobrir uma pequena parte do montante total devido. Isso acaba por prolongar o tempo necessário para liquidar a dívida, e faz com que o saldo em dívida permaneça por mais tempo. Caso continues a contrair dívidas com a utilização do cartão de crédito, os juros começam a incidir sobre o valor restante e a aumentar o montante da dívida a cada mês.
A longo prazo, essa prática pode levar a uma espiral crescente de dívidas, onde ficas preso em pagamentos mínimos mensais, sem conseguir reduzir efetivamente o montante devido. Isso pode resultar em anos de pagamentos contínuos e em montantes pagos muito maiores do que o valor original da dívida.
Portanto, é essencial fazeres o possível para evitar essa armadilha e tentares pagar o valor total em dívida, sempre que possível.
Se estiveres comprometido em liquidar dívidas significativas com juros elevados de cartão de crédito, uma alternativa seria pedir um crédito pessoal, que por norma tem taxas de juros mais baixa, para liquidar essa dívida e desta forma te concentrares no pagamento de uma única dívida (crédito pessoal). É importante não contraíres mais dívidas para não ser “pior a emenda que o soneto”.
Dessa forma, evita-se o ciclo de endividamento e garante-se uma gestão financeira mais saudável e sustentável.
Caso haja dificuldade em lidar com essas situações, é importante procurar aconselhamento financeiro especializado.
Conclusão
Nesta primeira parte do nosso artigo, exploramos diversos aspetos relacionados com essa ferramenta financeira tão comum no dia a dia: o cartão de crédito.
Embora ofereça a conveniência tentadora de comprar agora e pagar depois, é fundamental estarmos conscientes das armadilhas que podem acompanhar a sua utilização.
Os juros elevados, a falta de controlo de gastos, o endividamento descontrolado e os custos adicionais são alguns dos desafios que podem levar a uma situação financeira delicada, comprometendo o orçamento pessoal e gerando dívidas difíceis de pagar.
Para aproveitarmos os benefícios do cartão de crédito sem cair nas armadilhas financeiras, é essencial adotar uma abordagem responsável ao utilizá-lo. Optar por pagar o valor total, sempre que possível, é uma medida importante para evitar o ciclo de endividamento e garantir um uso benéfico do cartão.
Na Parte 2 deste artigo, vamos abordar dicas e vantagens relacionadas com a utilização do cartão de crédito.
Com estes artigos, pretendemos fornecer informações valiosas para auxiliar na tomada de decisões financeiras mais informadas e na utilização mais consciente e eficiente do cartão de crédito. Desejamos que estas orientações permitam alcançar objetivos financeiros e desfrutar de uma vida financeira mais equilibrada.
Convidamos-te a ler os artigos abaixo.
Cartão de Crédito: aliado ou adversário? – Parte 2
Orçamento pessoal ou familiar – como criar
Bora Falar de Guito?
Este artigo acrescentou algo de valor? Compartilha o link desta página e ajuda-nos a alcançar mais pessoas.
Subscreve a nossa newsletter para não perderes nenhuma novidade.
2 comentários
Artigo interessante e excelente alerta para os mais desatentos e impulsivos
Olá, José.
É sem dúvida um tema muito importante e que merece toda a atenção.
Obrigada pelo comentário.