Neste artigo pretendo descrever passos necessários para criar um orçamento pessoal ou familiar, de modo a dar um rumo certo as finanças.
Para dar início a este tema vou trazer a memória uma frase que já ouvi vezes sem conta: “Ninguém chega onde quer sem antes saber onde está”.
Como dependemos do dinheiro para realizar a grande maioria dos nossos planos/sonhos (comprar uma casa, comprar um carro, casar, proporcionar uma boa educação aos filhos, etc.) precisamos de saber onde estamos com o dinheiro e para onde queremos ir.
É neste ponto que entra a necessidade de fazer um orçamento.
Um orçamento é um documento onde são tidas em conta as possíveis receitas e despesas de um determinado projeto, pessoa, família, empresa, organização, num determinado período.
No caso das finanças pessoais o período a considerar é mensal, pois corresponde para a grande maioria, a frequência das receitas e despesas.
Onde estou com as minhas finanças?
Não importa se ganhamos muito ou pouco. Até diria que se ganhas pouco é ainda mais importante ter um orçamento, pois nesse caso não podes dar-te ao luxo de gastar o pouco que tens de qualquer maneira.
Antes de criar um orçamento, é necessário ter a plena consciência de quanto ganhamos e de quanto gastamos, isso corresponde a identificar onde estou. Sim, eu sei que pode parecer maçador ter de listar os gastos e as receitas, mas sem isso é impossível traçar um bom orçamento.
Para começar, sugiro listar todos os gastos e receitas, quer ocorram todos os meses ou com outra frequência.
O que preciso de definir antes de começar a orçamentar?
Antes de começar o teu orçamento, é necessário definir categorias de despesas e organizá-las em grupos que definem a importância e urgência.
Para uma melhor organização sugiro organizá-las em quatro grupos:
- Em primeiro lugar está o grupo de despesas recorrentes – despesas que ocorrem todos os meses:
- Supermercado, renda/prestação da casa, condomínio, água, eletricidade, gás, TV/internet/telemóvel, passe social, creche, colégio, combustível, cabeleireiro, estacionamento, portagem, ginásio, etc.
- Em segundo lugar, despesas eventuais – despesas que ocorrem com alguma frequência, mas não são mensais e para as quais temos de reservar dinheiro (aprovisionar) pois já sabemos que irão acontecer numa data especifica ou num futuro próximo:
- IMI – Imposto Municipal sobre Imóveis, IUC – Imposto Único de Circulação, seguro automóvel, inspeção automóvel, manutenção automóvel, seguro de saúde, seguro de vida, seguro multirrisco, anuidade do cartão de débito, despesa de manutenção de conta, medicamentos, consulta/exames médicos, veterinário, roupa/calçado, etc.
- Em terceiro lugar, despesas com qualidade de vida – despesas que podem afetar a tua qualidade de vida, tanto presente como futura. Para não comprometer o teu futuro, é importante ter em consideração este grupo de despesas de forma a não seres apanhado desprevenido:
- Fundo de emergência, férias, educação, investimentos, poupança para a reforma, etc.
- E em quarto, despesas não essenciais – despesas que podem trazer algum prazer à tua vida, mas que não são essenciais;
- Comer fora, cinema/teatro, presentes, take away, subscrição Netflix, mesadas, etc.
É preciso levar em consideração que num orçamento, o teu “eu” presente precisa de aprovisionar para o teu “eu” futuro. É por essa razão que deves considerar também como categorias de despesas o “Fundo de Emergência”, “Poupanças para a Reforma” e os “Investimentos”. Recomendo a leitura do nosso artigo A importância de pagar-te primeiro.
Como criar um orçamento?
Para criar um orçamento pessoal ou familiar sugiro que no início de cada mês (preferencialmente no dia 1) definas o montante que pretendes gastar para cada categoria de despesa. Na prática, um orçamento é exatamente isto, é pensar antecipadamente nos gastos e nas receitas que teremos.
O montante a orçamentar, para a grande maioria das categorias, provém da nossa experiência passada. Por isso, minimamente já temos uma ideia do quanto gastamos em água, em eletricidade, em passe social, em renda/prestação da casa, etc. Se porventura tiveres dúvidas consulta as faturas e ou o teu extrato bancário.
Por norma, o valor a orçamentar para as despesas são as receitas do mês anterior. Imaginemos que recebes o teu salário/rendimento no dia 25 de cada mês. No dia 1 do mês seguinte, ao elaborar o orçamento, é necessário distribuir o valor a orçamentar das receitas do mês anterior que foram transportados para o mês corrente.
O objetivo primordial é dividir todo o valor até o último cêntimo. Isto quer dizer que no final da elaboração do orçamento, o montante por orçamentar deve ser zero (0). Este tipo de orçamento é conhecido como orçamento de base zero, pois o objetivo é ficar com zero no final, o que significa que foi dado a cada euro um propósito.
Ao longo do corrente mês (após o dia do orçamento) é normal que o valor, montante por orçamentar mude, por exemplo quando recebes o salário, quando recebes um presente em dinheiro, etc. Essas novas receitas não devem ser orçamentadas até que chega o próximo dia 1 do mês seguinte.
Existem desafios ao orçamentar?
O grande desafio de se criar um orçamento é comprometermo-nos a seguir o orçamento à risca.
O orçamento é um alvo/meta a ser atingido, mas muitos vezes as coisas não acontecem como planeado, por isso, é necessário estar consciente de que poderá ser necessário ajustar o orçamento no mês corrente.
Imagina que tinhas orçamentado 50,00€ de eletricidade (Categoria: Eletricidade) e 80,00€ para comprar um par de sapatos (Categoria: Roupa/Calçado). No dia em que recebestes a fatura de eletricidade o valor era de 53,00€ e o que acabastes por gastar nos sapatos foi de 72,00€. Neste caso, é necessário ajustar o valor orçamentado para a eletricidade para 53,00€ e o valor orçamentado para comprar os sapatos para 77,00€, o que resulta num saldo disponível 5,00€ na categoria “Roupa/Calçado”.
Existe um caso em particular em que poderás orçamentar um valor negativo para uma determinada categoria.
Aproveitando o exemplo do montante inesperado da fatura de eletricidade, imagina que o montante que tinhas orçamento de 80,00€ para comprar o par de sapatos tinha sido feito no mês anterior e não foi utilizado. No mês corrente o valor orçamentado foi de 0,00€. Isto significa, que o saldo disponível da categoria “Roupa/Calçado” é de 80,00€. Neste caso, sugiro ajustar o valor orçamentado para eletricidade para 53,00€ e o valor orçamentado para comprar os sapatos para -3,00€. O resultado será um saldo disponível de 77,00€ na categoria “Roupa/Calçado”.
Recomendamos apenas usar valores negativos para categorias com valores disponíveis, ou seja, o resultado disponível final de uma categoria não pode ficar negativo, pois isso poderá comprometer a veracidade das contas.
Como registar os movimentos após o orçamento?
Após efetuar o orçamento do mês, sempre que ocorrerem despesas, os valores dessas despesas deverão ser registados e descontados nos valores orçamentados. Isso permite que tenhas a noção de como estão as contas e qual é a disponibilidade para novos gastos.
É extremamente importante controlar as nossas emoções, pois são elas que muitas vezes nos levam a comprar coisas que não precisamos, simplesmente, porque nos deixamos levar por um impulso. Daí, ter a consciência do valor que temos disponível, poderá ser uma ajuda para controlar os impulsos.
O que fazer para seguir o orçamento à risca?
Para seguir o orçamento à risca é necessário definir estratégias.
Imagina que num determinado mês não foi possível orçamentar dinheiro para comer fora. Neste caso, não convém ir as compras num centro comercial sem antes tomar uma refeição. O que poderá acontecer ao ir de estomago vazio é ter um impulso forte para comer fora.
Sejamos honestos, nem sempre estamos capacitados para ganhar os nossos impulsos, por isso, a minha sugestão é evitar tais situações.
Se tens um orçamento limitado para compras de supermercado, não convém sair de casa sem uma lista de compras nem com o estomago vazio. No supermercado, devemo-nos limitar a comprar apenas o que está na lista e evitar as armadilhas das promoções.
No que se refere as faturas, tenha sempre em mente as datas dos pagamentos e aprovisiona com antecedência os respetivos valores. Desta maneira não entrarás em incumprimento e não terás que pagar coima para além do valor da fatura.
A minha sugestão para despesas eventuais, é colocar de lado todos os meses o valor parcelado da fatura, de modo que no mês anterior ao pagamento tenhas todo o dinheiro que precisas para pagar a totalidade da fatura.
Imagina que tens o pagamento do seguro automóvel todos os anos no mês de dezembro, no valor de 120,00€. Deves aprovisionar o valor de 10,00€ todos os meses, a começar no mês da fatura (neste caso dezembro) de modo que no próximo novembro já tenhas o valor de 120,00€ para pagar no mês seguinte e assim por diante.
Quando começar a orçamentar?
Não existe uma altura ideal para começar. Fazer um orçamento, quer seja pessoal ou familiar, é uma necessidade primordial para umas finanças saudáveis. Decide começar hoje.
Para facilitar, criamos um ficheiro em Excel (orçamento.xlsx), que podes usar como suporte para criar o teu orçamento.
Compartilha connosco se já fazes um orçamento, quais os métodos que utilizas e deixa as tuas sugestões abaixo, na secção dos comentários.
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