Literacia financeira não é apenas uma conquista na era da informação, é a chave para desbloquear a liberdade financeira, capacitar escolhas conscientes e construir um futuro de maior segurança e prosperidade.
Neste artigo, destacamos a importância dessa literacia, exploramos aspetos importantes da literacia financeira e abordamos a proposta da Iniciativa Liberal de “Recomendação ao governo que dê preponderância devida à Literacia Financeira em contexto escolar”, uma proposta que, lamentavelmente, foi reprovada.
O que significa Literacia Financeira?
Segundo a definição da OCDE, Literacia Financeira é:
“A combination of awareness, knowledge, skill, attitude and behaviour necessary to make sound financial decisions and ultimately achieve individual financial wellbeing.”OCDE
Possível tradução para português de Portugal: “A literacia financeira é uma combinação de consciência, conhecimento, habilidade, atitude e comportamento necessários para tomar decisões financeiras acertadas e, em última análise, alcançar o bem-estar financeiro individual.”
Por que é crucial introduzir a Literacia Financeira desde cedo?
A literacia financeira desde cedo é crucial por diversas razões. Destacamos algumas:
Estabelece bases sólidas
A promoção da literacia financeira desde a infância estabelece bases sólidas e ajuda a cultivar uma compreensão desde cedo sobre o valor do dinheiro, a importância do orçamento, a avaliação de riscos e a responsabilidade nas decisões financeiras.
Hábitos financeiros saudáveis
Ao promover a literacia financeira desde a infância, é mais provável que se cultivem hábitos financeiros mais saudáveis. Isto abrange não apenas a prática de poupar, mas também a compreensão do funcionamento do dinheiro em diversos contextos, incluindo o ambiente familiar.
À medida que a idade avança, esse conhecimento permite uma abordagem mais consciente às questões como investimentos e ajuda a evitar dívidas desnecessárias.
Preparação para o futuro
A literacia financeira prepara as crianças para enfrentar desafios financeiros à medida que crescem. Além disso, prepara para que ao longo do tempo possam tomar decisões informadas relativamente a própria educação, poupanças, carreira, compra de casa e planeamento da reforma.
Entendimento do valor do trabalho
Aprender sobre dinheiro desde cedo ajuda as crianças a compreenderem o valor do trabalho. Isso pode incentivá-las a desenvolver uma ética de trabalho sólida e a entender que também é necessário esforço para ganhar dinheiro.
Capacidade de lidar com desafios financeiros
A literacia financeira fornece ferramentas para enfrentar situações financeiras desafiadoras. As crianças que têm noções básicas de como funciona o dinheiro estarão mais aptas a entender o contexto financeiro, facilitando de certa forma a comunicação no seio familiar, no que respeita ao dinheiro.
Capacitação e autonomia
A capacidade de compreender e gerir as finanças confere às crianças um senso de capacitação e autonomia. Estarão mais confiantes ao tomar decisões relativamente ao dinheiro e ao longo da vida menos propensas a caírem em esquemas financeiros.
Redução da desigualdade
A literacia financeira pode funcionar como uma ferramenta para combater a desigualdade financeira ao longo da vida.
Ajuda a aumentar a visão e compreensão sobre o que é o dinheiro, como “fazer” dinheiro, como gerir o dinheiro, eliminar pensamentos limitantes sobre o dinheiro (muitas vezes inerentes ao meio onde estamos inseridos) e desta forma trazer esperança para um futuro financeiro melhor.
A proposta
A Iniciativa Liberal, no final do ano passado, apresentou uma proposta para votação na Comissão de Educação e Ciência, que visava reforçar a literacia financeira no contexto escolar, reconhecendo os desafios crescentes do mundo financeiro. Contudo, a sua reprovação por parte de alguns partidos políticos, no dia 21 de dezembro de 2023 em reunião plenária N.º 33, levanta preocupações sobre o compromisso político com a preparação financeira das gerações futuras.
O Projeto de Resolução n.º 952/XV/2.ª da Iniciativa Liberal visa recomendar ao Governo uma maior ênfase na literacia financeira no contexto escolar em Portugal.
O documento destaca a importância da autonomia individual e igualdade de oportunidades, destacando a necessidade de capacitar as pessoas para tomar decisões financeiras informadas.
Aponta para a complexidade crescente do mundo financeiro, a tomada individual de decisões financeiras e os desafios demográficos como razões para fortalecer a literacia financeira.
O texto salienta que, apesar da crescente importância da literacia financeira, os níveis em Portugal são preocupantemente baixos.
O país está entre os que apresentam menor literacia financeira na União Europeia.
O projeto reconhece os esforços existentes, como o Plano Nacional de Formação Financeira, mas realça a necessidade de uma abordagem mais eficaz, especialmente entre os jovens e grupos vulneráveis.
Propõe a atualização do Referencial de Educação Financeira, a inclusão de aspetos elementares de literacia financeira no currículo do ensino básico e a explicitação da literacia financeira nas áreas de competências do Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória.
Destaca a importância de uma exposição prolongada à literacia financeira na escola para melhorar os níveis de conhecimento.
Conclui com o realce dos benefícios a longo prazo do investimento na literacia financeira para o bem-estar individual, equidade social e desenvolvimento económico do país.
O projeto foi apresentado em novembro de 2023 e reprovado em dezembro de 2023.
Proposta reprovada
Não se entende razões para a reprovação de uma proposta dessas, que em tudo traz mais liberdade e dignidade a sociedade no que refere ao dinheiro.
Assistimos a uma entrevista da autora da Proposta, Carla Castro, dada ao Canal A Cor do Dinheiro, que esclarece que os grandes objetivos da proposta são:
- Atualizar o Referencial de Educação Financeira que data de 2013, tal como já estava previsto no Plano Nacional de Formação Financeira 2021-2025;
- Considerar incluir aspetos elementares de literacia financeira no currículo escolar do ensino básico de forma que todos os alunos estejam expostos aos mesmos independentemente das escolhas vocacionais que façam no ensino secundário;
- Incluir explicitamente a literacia financeira nas áreas de competências do Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória.
Carla Castro, entende que conceitos como compreender a inflação, empréstimos, orçamento, planear a reforma, investimentos, devem fazer parte da educação desde a tenra idade.
Alguns argumentos apresentados contra a proposta:
- Uma da justificação para a proposta ser reprovada é o facto de alguns conteúdos já serem abordados na disciplina existente de Cidadania. A disciplina de Cidadania e Desenvolvimento aborda os seus conteúdos conforme o critério de cada escola.
- Outra das justificações foi que ao abordar o tema da literacia financeira estariam a desresponsabilizar o estado neste quesito.
Verificamos que um dos partidos que votou contra a proposta, entre outras informações, publicou numa das suas redes sociais a seguinte informação:
“Sabias que: altos níveis de «Literacia Financeira», tendem a corresponder a decisões financeiras irresponsáveis?”.
É de lamentar ver disseminar tais informações vindas de partidos políticos e verificar que estão apenas a defender as suas ideologias e em completo desacordo com:
- Organizações como a OCDE;
- Comissão Europeia;
- A triste realidade que verificamos diariamente, a tomada de decisões financeiras por parte de indivíduos e famílias com base na ignorância, onde consequentemente são penalizados, muitas vezes por longos anos.
Refletindo sobre a importância da literacia financeira como uma habilidade essencial ao longo da vida, a proposta rejeitada destaca a necessidade de uma abordagem mais eficaz em Portugal, especialmente entre os jovens e grupos vulneráveis. Afinal, a literacia financeira não é apenas sobre números, é sobre capacitar as pessoas para enfrentar desafios, reduzir a desigualdade e construir um futuro financeiro mais promissor.
Como está a Literacia Financeira em Portugal?
Embora tenhamos cada vez mais acesso à informação, o relatório do Eurobarómetro posicionou Portugal na 26.ª posição entre os 27 países da União Europeia em termos de literacia financeira, sublinhando a necessidade urgente de ação.
O desafio é claro, e a Comissão Europeia destaca que é responsabilidade conjunta dos países membros elevar os níveis de literacia financeira.
Os números revelam que Portugal enfrenta desafios significativos em termos de literacia financeira, classificando-se entre os países com os menores níveis na União Europeia. O país carece de uma abordagem mais abrangente e sistemática para melhorar esses índices.
Entre as perguntas estavam temas como a inflação, investimentos e juros compostos.
A Comissão Europeia entende que “Este primeiro inquérito europeu à literacia financeira é uma chamada de atenção para nós e para os Estados-membros: juntos temos de fazer mais para melhorar os níveis de literacia financeira na União Europeia.”
Gráfico de Monitorização do nível de literacia financeira na União Europeia
Conclusão
O dinheiro é uma das áreas mais importantes da vida e o tema deveria fazer parte do currículo escolar desde a infância com a devida ênfase. Porque enquanto seres humanos, iremos lidar com o dinheiro a vida inteira.
A compreensão da literacia financeira não é apenas uma habilidade necessária, é um pilar fundamental para o bem-estar individual, a igualdade social e o crescimento económico.
A decisão de rejeitar a proposta levanta questões sobre o compromisso coletivo em preparar as gerações futuras para os desafios financeiros que enfrentarão.
Em última análise, o investimento na literacia financeira não é apenas uma escolha sensata, é uma necessidade imperativa para construir um futuro financeiro mais robusto e equitativo em Portugal.
Bora Falar de Guito?
Entretanto, convidamos-te a ler os artigos abaixo:
Dívidas: 10 razões que levam as pessoas a endividar-se (parte 1)
Dívidas: 10 razões que levam as pessoas a endividar-se (parte 2)
Este artigo acrescentou algo de valor? Compartilha o link desta página e ajuda-nos a alcançar mais pessoas.
Subscreve a nossa newsletter para não perderes nenhuma novidade.