Com certeza já paraste para pensar como será a tua situação financeira no futuro em algum momento da vida. Para alguns, o futuro apesar de desconhecido, é encarado com esperança, mas para outros o futuro gira em torno de incertezas.
As equipas de futebol, por exemplo, estão constantemente a treinar e a estudar as táticas dos seus adversários de modo a estarem em boa forma física, com uma estratégia bem definida e precavidos sobre o comportamento da equipa adversária. Isso permite criar confiança na equipa, de que estarão aptos para enfrentar qualquer desafio.
Nas nossas finanças, também podemos aplicar algum tipo de plano ou estratégia e isso nos permitirá encarar o futuro com tranquilidade. Mas, para isso precisamos de ter a consciência de que a saúde das nossas finanças é influenciada por três fatores:
- As nossas receitas – quanto ganhamos;
- As nossas poupanças – quanto conseguimos NÃO GASTAR das nossas receitas;
- Os nossos investimentos – o que fazemos para rentabilizar as nossas poupanças.
Neste artigo, pretendo abordar de forma introdutória, o que saber antes de investir na bolsa de valores (vamos focar principalmente em ações), que corresponde a um dos canais que temos a nossa disposição para investir as nossas poupanças.
O que é a Bolsa de Valores?
A bolsa de valores é um espaço ou organização que facilita o encontro entre a oferta e a procura de valores mobiliários (Ações, Obrigações, Fundos, ETFs, Opções, Futuros, Produtos Alavancados, etc.).
Em Portugal a bolsa de valores é denominada de Euronext Lisbon (anteriormente era conhecida como Bolsa de Valores de Lisboa e Porto), pertence ao grupo Euronext (resultado de uma fusão das bolsas de Amesterdão, Bruxelas, Londres, Lisboa, Dublim, Oslo e Paris), sendo este grupo a maior bolsa de valores da Europa.
Qual é a razão de haver empresas cotadas na bolsa?
Uma das principais razões que levam uma empresa a ser cotada na bolsa é a captura de recursos para investimento.
Uma empresa pode optar por várias formas de financiar a sua operação, como por exemplo, através das receitas geradas pelo próprio negócio, empréstimos junto de instituições de crédito, recorrer a emissão de dívidas (obrigações), abrir o capital na bolsa, etc.
Uma das grandes diferenças entre financiar as operações de uma empresa com a abertura do capital na bolsa em comparação a recorrer a empréstimos e ou emissão de obrigações, é não haver lugar a devolução do capital obtido e nem tampouco a empresa estará sujeita a gerar um retorno específico, o que liberta a empresa de modo a focar na aplicação dos recursos recebidos da melhor maneira e sem pressão.
A operação de abertura de capital na bolsa é denominada de IPO, do inglês “Initial Public Offering” ou “oferta pública inicial” em português.
O que é uma ação?
Uma ação, corresponde ao título que representa uma fração do capital social de uma empresa constituída sob a forma de uma sociedade anónima. O detentor destes títulos é denominado de acionista.
O que são ordens de bolsa?
Os investidores particulares, não podem transacionar os produtos cotados diretamente na Bolsa de Valores. Para comprar ou vender produtos cotados em bolsa, no caso das ações, é necessário transmitir uma ordem a um intermediário financeiro (bancos, corretoras, sociedades gestoras de fundos de investimentos, etc.).
As ordens da bolsa podem ser dadas por escrito, oral ou através da internet e devem conter os seguintes elementos:
- A identidade do investidor que dá a ordem;
- O tipo de operação (compra ou venda);
- O valor mobiliário que se pretende negociar (no caso a ação);
- A quantidade;
- O preço.
Que tipos de ordens existem?
Os tipos de ordens existentes são:
- Ordem limitada – a definição deste tipo de ordem depende do tipo da operação. No caso de uma compra, o preço definido corresponde ao valor máximo que o investidor está disposto a pagar por cada ação. No caso de uma venda, o preço definido corresponde ao valor mínimo pelo qual o investidor está disposto a vender cada ação.
- Ordem ao mercado – neste tipo de ordem, o investidor não define o preço pelo qual pretende comprar ou vender cada ação, apenas necessita de definir a quantidade. A ordem será executada com o melhor preço disponível no momento. Se porventura não for possível adquirir a quantidade total da ação pretendida no momento, o sistema comprará as disponíveis e posteriormente o remanescente, aquando de uma nova oferta de:
- Venda – se a operação for do tipo compra;
- Compra – se a operação for do tipo venda.
- Ordem de StopLoss – tipo de ordem utilizado para reagir as alterações de mercado. Neste tipo de ordem, o investidor define o preço por ação a partir do qual pretende vender a sua posição numa determinada ação (vender todas as unidades que possui daquela ação). Se o preço da ação cair para o valor definido ou menos, o sistema irá enviar para a bolsa uma Ordem ao Mercado para vender a posição da ação. No entanto, é possível que o valor de venda por ação seja abaixo do valor pretendido.
Imaginemos que o valor definido foi de 50,00€ e foram divulgadas más notícias fora da hora comercial e o preço de abertura foi de 35,00€ na manhã seguinte. Isso significa que o sistema iria vender a posição com uma Ordem ao Mercado de 35,00€. - Ordem de StopLimit – este tipo de ordem é muito semelhante ao “StopLoss”, com a diferença de que neste é ainda possível definir um preço mínimo de venda por ação, ou seja, o investidor definirá um intervalo de preços por ação onde a posição poderá ser vendida.
Quais são os riscos ao investir na bolsa de valores?
Ao investir na bolsa de valores é necessário estarmos cientes que não estamos isentos de riscos.
Seguem os principais riscos associados:
- Risco de Capital – risco de perda parcial ou total do capital investido;
- Risco de Mercado – situações macroeconómicas alheias a entidade que emitiu uma determinada ação pode levar a uma desvalorização do preço da ação;
- Risco de Crédito – em caso de insolvência da entidade que emitiu a ação, existe a possibilidade de não receber o valor investido e os dividendos;
- Risco Cambial – a moeda em que a ação foi emitida poderá desvalorizar face a moeda do país do investidor;
- Risco de Liquidez – ao tentar vendar a ação, poderá não encontrar compradores por um preço justo;
- Risco Fiscal – o regime de tributação dos rendimentos ou mais-valias poderá sofrer agravamentos;
- Risco Político – a ação poderá desvalorizar devido a circunstâncias políticas no país de emissão;
- Risco de Conflitos de Interesse – os interesses do investidor poderão ser subordinados aos interesses do intermediário que lhe oferece a ação;
Qual é o teu perfil de risco?
O perfil de investidor, de uma forma resumida, corresponde a nossa postura na aplicação do nosso dinheiro, como nos sentimos perante o risco de o perder e quais as nossas expectativas.
Conhecer o teu perfil de risco, permite saber quais os investimentos que melhorar se adequam e, se levado em consideração no momento de decisão permite evitar que te envolvas com investimentos que te possam deixar desconfortável.
Para saber qual o teu perfil, é necessário responder a algumas perguntas, entre elas:
- Quanto estás disposto a investir?
- Qual é a rentabilidade esperada?
- Qual é o teu grau de aversão ao risco de perda do capital investido?
- Tens preferência por aplicação de curto, médio ou de longo prazo?
- Qual é o teu nível de conhecimento sobre os produtos financeiros existentes no mercado?
Tipos de perfis
Perfil conservador ou prudente – um investidor com este perfil procura produtos que preservam o capital investido e o foco não está na rentabilidade. Por norma, corresponde a um perfil que é avesso aos principais riscos: de capital, crédito e liquidez. Tem preferência por produtos de capital garantido, com um prazo de vencimento mais curto o que eventualmente está associado a uma rentabilidade mais baixa. Não tem por hábito acompanhar o mercado financeiro.
Equilibrado ou moderado – um investidor com este perfil procura produtos com garantia do capital investido, mas estará disposto a assumir um prazo mais longo de modo a acomodar uma oscilação adversa de rendimentos. Acompanha o mercado financeiro de forma mais ou menos regular, mas não se sente à vontade para investir em renda variável.
Dinâmico – um investidor com este perfil procura uma rentabilidade superior à média de mercado, está disponível para aplicação de médio e longo prazo e para assumir riscos de algumas perdas no capital investido. Acompanha o mercado financeiro de forma regular.
Arrojado ou agressivo – um investidor com este perfil procura uma rentabilidade mais elevada quando comparada com a média de mercado, está disponível para aplicações com horizonte temporal mais curto e assume o risco de perda total ou superior ao capital investido. Acompanha o mercado financeiro de perto e está a par de todas as subidas e descidas.
O que considerar antes de investir na Bolsa de Valores?
Seguem alguns aspetos que deverás ter em consideração antes de investir:
- Conhece o teu perfil de investidor e certifica-te que os teus futuros investimentos têm isso em consideração;
- Define os teus limites: quanto pretendes investir, por quanto tempo e quanto estás disposto a perder;
- Certifica-te que possuis um fundo de emergência antes de começares a investir;
- Os preços das ações estão sujeitos a subidas e a descidas, por isso, não investe montantes que a partida sabes que irás precisar num período inferior a 3 ou 5 anos. Dá tempo para que os teus investimentos amadureçam;
- Lê e compara as tabelas de preço dos intermediários financeiros e sabe quais são os custos do investimento, como por exemplo:
- Comissões de compra ou venda;
- Comissões de custódia;
- Comissões de transferência;
- Taxas de conectividade as bolsas;
- Custos de processamento dos dividendos;
- Comissões de cambio de moedas estrangeiras;
- Comissões de acesso a cotação;
- Conhece os riscos e as rentabilidades dos produtos financeiros escolhidos;
- Verifica que o intermediário financeiro escolhido está autorizado pela CMVM;
- Sabe quais são as garantias dadas pelo intermediário financeiro em relação ao capital investido ou a custódia das ações adquiridas;
- Não investe antes de conhecer as tuas obrigações legais;
- Não recorre a alavancagem (empréstimo) para investir na bolsa;
- Considera a diversificação como primordial para reduzir os riscos. Não investe apenas numa classe de ativos (grupos de ativos com características semelhantes) e dentro de cada classe de ativos procura a diversificação.
Exemplo de classe de ativos:
- Monetário – contas a ordem/prazo;
- Obrigações – instrumentos de dívida de um estado ou de uma empresa;
- Ações – Ações cotadas e não cotados e podem ser nacionais ou estrangeiros;
- Matérias-primas – Metais preciosos e pesados, matérias-primas agrícolas e energia;
- Derivados – swaps, opções e futuros;
- Outros – imobiliário, artigos de coleção (obras de arte, moedas, vinhos, selos, etc.).
Não decide investir de forma precipitada, nem com base nas “dicas” de um amigo. Faz o teu estudo, define os teus objetivos e investe quando estiveres confortável.
Ao investires em ações, não faz todo o investimento ao mesmo tempo, faz as tuas compras de forma faseada, de modo a poderes beneficiar dos diferentes preços e tem em atenção que o mercado financeiro está muitos vezes suscetível a correções.