Já paraste para pensar como as nossas emoções influenciam a forma como lidamos com o dinheiro? Acredita, essa relação é muito mais profunda do que imaginamos. Compreender essa interação, ajuda-nos a tomar decisões financeiras mais conscientes.
As finanças, indiscutivelmente, são um dos pilares centrais das nossas vidas. No entanto, é comum esquecermos que as nossas decisões financeiras são influenciadas por diversos fatores psicológicos.
É nesse cenário que a Psicologia Financeira surge como uma ferramenta importante para melhorar a nossa tomada de decisões.
Ao longo deste artigo, vamos abordar como as nossas decisões financeiras são moldadas por fatores emocionais, crenças profundamente enraizadas e experiências pessoais. Desta forma, poderemos compreender melhor como aplicar esse conhecimento da psicologia financeira e alcançar uma saúde financeira mais sólida e equilibrada.
Comportamentos financeiros aprendidos
As nossas atitudes em relação ao dinheiro são frequentemente influenciadas por experiências passadas e por modelos familiares.
Por exemplo, se fomos criados num ambiente financeiro onde existia insegurança ou falta de conhecimento sobre gestão financeira, é provável que carreguemos esses padrões para a vida adulta.
Se crescemos numa família onde não havia o hábito de poupar ou investir, podemos tendencialmente adotar comportamentos semelhantes na nossa vida adulta, o que pode prejudicar a nossa estabilidade financeira.
Ao reconhecermos que herdamos um padrão de gastos, podemos trabalhar no desenvolvimento da nossa autodisciplina financeira e começar a criar um plano de poupança regular para alcançar objetivos financeiros específicos, como comprar uma casa ou fazer uma viagem importante.
No entanto, ao identificarmos esses comportamentos aprendidos e a influência que têm sobre nós, damos o primeiro passo para desfazer crenças limitantes, quebrar padrões prejudiciais e desenvolver uma mentalidade financeira mais saudável e responsável para melhor gerir o nosso dinheiro.
A psicologia financeira ajuda-nos a explorar as nossas crenças financeiras enraizadas e capacita-nos a construir uma mentalidade financeira mais saudável, permitindo-nos tomar decisões financeiras mais informadas e equilibradas.
Tomada de decisões emocionais
Diz-se que o dinheiro é emocional. As nossas decisões financeiras são frequentemente moldadas pelas nossas emoções.
O medo de perder dinheiro pode levar-nos a evitar riscos sensatos em investimentos potencialmente lucrativos. Por outro lado, a ganância pode fazer com que tomemos decisões arriscadas em busca de ganhos rápidos. Além disso, o otimismo excessivo e outros sentimentos descontrolados podem levar a escolhas impulsivas que prejudicam a nossa estabilidade financeira.
Vamos a um exemplo prático para ilustrar melhor. Imagina que estás a investir em ações no mercado financeiro e, de repente, ocorre uma queda significativa nos preços das ações de uma empresa na qual investiste uma quantia considerável, com base nos fundamentos dessa empresa. Nesse momento, a emoção do medo pode apoderar-se de ti, levando-te a venderes as ações rapidamente, com receio de que elas percam ainda mais valor e acabes por perder grande parte ou a totalidade do dinheiro investido.
Essa decisão impulsiva, baseada no medo, pode resultar em prejuízos financeiros significativos caso as circunstâncias que estavam a influenciar negativamente o desempenho da empresa alterem e a mesma recupere posteriormente aumentando ou repondo o preço das ações.
Qual poderia ser uma abordagem?
Se adotares uma abordagem mais racional e informada, podes analisar a situação de forma objetiva, considerando os fundamentos da empresa, o cenário económico geral e as perspetivas futuras. Essa análise mais fundamentada poderia levar-te a uma decisão mais equilibrada, como manter as ações a longo prazo e ou até mesmo reforçar o número de ações aproveitando a baixa do preço das ações, confiando na capacidade da empresa de se recuperar.
A psicologia financeira ajuda-nos a identificar os nossos vieses emocionais e a criar estratégias para tomarmos decisões financeiras mais equilibradas e fundamentadas.
Ao reconhecermos a influência das emoções nas nossas decisões financeiras, podemos desenvolver uma abordagem mais consciente e informada em relação ao dinheiro, evitando assim tomar decisões precipitadas e prejudiciais à nossa estabilidade financeira.
“A paciência é a virtude mais importante para um investidor, porque as coisas certas para fazer com o dinheiro raramente são as coisas mais fáceis de fazer.” Morgan Housel, autor do livro The Psychology of Money.
Autoconhecimento financeiro
A psicologia financeira também nos ajuda a entender os nossos objetivos financeiros pessoais e o que realmente valorizamos. Isso varia de pessoa para pessoa.
Alguns podem valorizar mais a segurança, no entanto com uma perspetiva futura, enquanto outros estão dispostos a correr mais riscos.
Para dar um exemplo prático, vamos imaginar que tens um amigo que valoriza muito a segurança financeira. Prefere ter um fundo de emergência substancial antes de investir em outras oportunidades. Sente-se mais tranquilo ao saber que tem uma “rede de segurança” financeira caso aconteça algum imprevisto, como perder o emprego ou enfrentar despesas médicas inesperadas.
Por outro lado, tens outro amigo que valoriza muito investimentos de alto retorno e que não se importa de perder algum dinheiro. Está disposto a assumir mais riscos nos seus investimentos, pois acredita que, ao arriscar um pouco mais, pode alcançar retornos mais significativos e assim realizar projetos a longo prazo.
Neste exemplo, ambos os amigos têm abordagens financeiras diferentes, pois os seus valores pessoais são distintos, logo, os perfis de risco são diferentes. O primeiro está focado na segurança e estabilidade financeira, enquanto o segundo está mais inclinado a assumir riscos para alcançar as suas aspirações de vida.
Ao compreenderes os teus valores financeiros, podes alinhar as tuas decisões com os teus objetivos pessoais. O autoconhecimento financeiro permite-nos fazer escolhas mais alinhadas com os nossos valores, tornando as nossas decisões financeiras mais significativas e gratificantes.
Ao compreendermos o que realmente valorizamos (perfil de risco), podemos estabelecer metas financeiras mais claras e trabalhar em direção ao bem-estar financeiro que se encaixa melhor com a nossa visão de uma vida realizada.
Planeamento financeiro a longo prazo
Uma das maiores dificuldades financeiras que enfrentamos é a tendência para favorecer a gratificação imediata em vez de poupar e investir para o futuro. No entanto, é importante encontrarmos um equilíbrio entre satisfazer as nossas necessidades e desejos no presente e garantir a segurança financeira a longo prazo.
Vamos imaginar a seguinte situação: queres realizar uma viagem espetacular para um destino dos teus sonhos, mas essa viagem tem um custo significativo, cujo preço passa por gastares todas as tuas economias (uma verdadeira limpeza) para desfrutares dessa viagem imediatamente, e viver uma experiência inesquecível no presente.
Essa decisão pode colocar em risco a tua estabilidade financeira, uma vez que não estás a fazer um planeamento financeiro.
Por outro lado, se decidires fazer um planeamento financeiro, vais estruturar as tuas finanças de modo que continues a ter dinheiro para garantir a tua estabilidade financeira, a colocar de lado dinheiro para satisfazer os teus prazeres e necessidade e ao mesmo tempo continuarás a providenciar para o teu futuro. Dessa forma, consegues equilibrar as necessidades do presente com a responsabilidade de garantir o teu bem-estar financeiro.
Ao desenvolveres a autodisciplina para adiar a gratificação imediata e pensar no futuro, consegues tomar decisões financeiras mais conscientes e ponderadas. Ao compreender os teus objetivos financeiros a longo prazo e os benefícios de poupar consistentemente, consegues superar as tentações de gastos impulsivos e construir uma base sólida para a tua segurança financeira.
Assim, não se trata de abdicar dos prazeres da vida, mas sim de encontrar um equilíbrio saudável entre desfrutar do presente e garantir uma estabilidade financeira duradoura.
Perceção do valor
A forma como percecionamos o valor do dinheiro e dos bens materiais pode afetar as nossas decisões de gastos e investimentos. Por vezes, atribuímos mais valor a artigos caros ou de luxo, mesmo que não sejam realmente essenciais para a nossa felicidade ou bem-estar. Esta perceção distorcida pode levar-nos a gastos desnecessários e dificultar a poupança planeada.
Vamos imaginar o seguinte cenário: Estás a planear comprar um novo smartphone e deparas-te com duas opções: um modelo de uma marca de renome, mas com um preço bastante elevado, e um modelo de uma marca também conhecida, mas com preços mais acessíveis e com especificações técnicas e funcionalidade semelhantes.
A tua perceção de valor pode ser influenciada pela marca do smartphone e pelo preço. É possível que sintas que o modelo da marca de renome, apesar do preço elevado, seja uma opção mais valiosa e duradoura, enquanto o modelo mais acessível pode parecer menos confiável e de qualidade inferior, mesmo que não haja grande diferença nas funcionalidades e qualidade do produto.
No entanto, ao adotares uma abordagem mais ponderada, podes investigar as especificações técnicas, as análises de utilizadores e a reputação de ambas as marcas. Dessa forma, consegues tomar uma decisão mais informada e possivelmente chegar a conclusão que o modelo mais acessível pode ser uma opção igualmente valiosa, além de mais económica e que atende às tuas necessidades.
A psicologia financeira ajuda-nos a reconhecer estes vieses e a adotar uma abordagem mais ponderada ao decidir como gastar e investir o nosso dinheiro de forma mais consciente.
Ao compreendermos como a nossa perceção de valor pode ser influenciada por fatores externos, conseguimos evitar gastos desnecessários e tomar decisões financeiras mais alinhadas com as nossas necessidades reais e desta forma, poupar recursos valiosos para outras áreas da nossa vida.
Aversão à perda
A aversão à perda é um dos principais aspetos da Psicologia Financeira que pode influenciar significativamente a nossa tomada de decisão nas finanças pessoais. Essa aversão é a tendência de sentir o impacto das perdas de forma mais intensa do que o prazer das conquistas financeiras.
Essa emoção pode levar a comportamentos conservadores e a uma maior resistência ao risco. Por exemplo, um investidor avesso à perda pode ser relutante em vender ações que estão em queda, na esperança de que os preços subam novamente e ele recupere o dinheiro investido. Esse comportamento pode impedir que o investidor tome decisões racionais e tire proveito de oportunidades de crescimento.
Para lidar com a aversão à perda e tomar decisões financeiras mais equilibradas, é importante desenvolver um maior autoconhecimento financeiro, estar ciente de como as emoções podem afetar as nossas escolhas e procurar uma abordagem mais objetiva e baseada em informações sólidas.
A compreensão da influência dessa emoção nas nossas finanças pessoais nos ajuda a adotar uma postura mais consciente e estratégica em relação aos nossos investimentos e gastos.
Conclusão
Os comportamentos financeiros aprendidos, a tomada de decisões emocionais, o autoconhecimento financeiro, o planeamento a longo prazo, a perceção do valor e a aversão à perda foram os pontos-chave discutidos no contexto da psicologia financeira. Todos eles com um impacto significativo nas nossas finanças.
Compreender a influência desses fatores psicológicos permite-nos tomar decisões financeiras mais informadas e conscientes. Ao desenvolvermos o autoconhecimento financeiro e a capacidade de resistir a tentações impulsivas, podemos alinhar as nossas escolhas com os nossos objetivos e valores financeiros.
Lembra-te sempre que o dinheiro é apenas uma ferramenta, e a forma como lidamos com ele é profundamente influenciada pela nossa psicologia. Ao aprendermos a compreender e trabalhar com estes aspetos, estaremos mais bem preparados para uma gestão financeira bem-sucedida e equilibrada.
“Inteligência financeira é a capacidade de evitar fazer coisas estúpidas com o dinheiro, quando tudo ao teu redor te diz para as fazer.” Morgan Housel.
Fica atento às próximas publicações e obrigada por caminhares connosco nesta enriquecedora viagem de conhecimento financeiro.
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