Quem não gostaria de ter as suas finanças em ordem? Quem não gostaria a noite de encostar a cabeça na almofada e dormir sem preocupação de como irá pagar as contas?
Para isso, é necessário ter um estilo de vida que vá de encontro com esses objetivos. Em seguida vou descrever 5 passos que podem ajudar a melhorar as tuas finanças.
São passos simples, mas se levados à risca, podem fazer toda a diferença.
Passo 1 – Estar ciente de onde vem o dinheiro e para onde vai
Entender de onde vem o teu dinheiro, qual o montante a que tens acesso todos os meses e como gastas o teu dinheiro é um dos passos importantes para melhorar as tuas finanças.
Sei que já falei sobre isso no artigo Orçamento pessoal ou familiar – como criar, mas é importante saber como flui o dinheiro nas tuas mãos e em que categoria de despesas gastas mais ou menos dinheiro.
A única forma de saber isso é começar a registar as tuas despesas, de modo a teres uma perspetiva do fluxo do dinheiro. De nada vale fazer isso apenas um mês, é necessário ter esse controlo todos os meses.
Eu tenho a certeza de que para muitas pessoas, se eu perguntar qual o montante que gastam em supermercado ou quanto dinheiro gastam a comer fora por mês, não saberão responder.
Se não sabemos responder como usamos o dinheiro então será complicado utilizar o dinheiro com o cuidado necessário.
Passo 2 – Abater todos os créditos com juros altos
Quando falo de juros altos, refiro-me a créditos (dívidas) como o do cartão de crédito, créditos pessoais, etc. Por norma são créditos com juros consideráveis.
Uma forma de obter uma relação de todos os créditos que tens, é retirar o Mapa de Responsabilidades do Banco de Portugal. Acede a área Particulares do site do Banco de Portugal, clica no link Central de Responsabilidades de Crédito, no final da página clica no botão “Sim, aceito a utilização de cookies”, marca a checkbox com o texto “Li e aceito a política de dados pessoais e as condições de acesso por via eletrónica à CRC” e por fim clica no botão “Autenticar e obter mapa”. Para Autenticar no do site do Banco de Portugal, tens disponível vários métodos, um deles é através do Portal das Finanças. Após autenticar aguarda um pouco enquanto é gerado o mapa (ficheiro no formato PDF).
No que toca aos cartões de crédito, segundo o Banco de Portugal, a taxa máxima que os bancos podem cobrar aos seus clientes, a vigorar no primeiro trimestre de 2022, é de 15.7%.
A maioria dos bancos que possuem cartões de créditos no mercado, cobra os juros máximos permitidos pelo Banco de Portugal. Além disso, uma boa parte dos clientes de cartões de crédito pagam uma anuidade pelos cartões e ainda é cobrado a chamada taxa de gasolineira (cobrada se utilizar o cartão de crédito para pagar combustível num posto de abastecimento).
Abater o quanto antes estes créditos, é uma forma de poupar dinheiro, pois evitará perder dinheiro ao pagar juros altos.
Começa por abater o crédito com maior juro. Quando terminares, passa para o crédito seguinte utilizando a liquidez que sobrou do anterior e assim sucessivamente.
Passo 3 – Constituir um Fundo de Emergência
Imagina que, de repente, ficas sem emprego, ou que por alguma eventualidade aparece alguma despesa com um valor considerável, como, por exemplo, o motor do teu carro avaria. Qual é o teu plano para minimizares estes imprevistos?
É necessário ter dinheiro “cash” para suprir estas eventualidades. A esse dinheiro cash que deverás pôr de lado, dá-se o nome de Fundo de Emergência. Conforme mencionei no artigo Fundo de Emergência – O que precisas de saber, em teoria o montante de um Fundo de Emergência pode variar entre 6 e 12 meses do valor correspondente do teu custo médio mensal.
O teu custo médio mensal corresponde ao montante médio que gastas por mês para manteres o teu padrão de vida e podes obter esta informação ao executar o passo 1. Neste valor inclui todo o tipo de despesas que fazes durante o mês, não esquecendo de considerar as despesas que não acontecem mensalmente.
O teu Fundo de Emergência deverá ser guardado num local seguro e com o capital garantido, deverá ter liquidez, ou seja, é necessário garantir a possibilidade de o levantar no máximo entre 3 e 5 dias úteis e por fim, se possível, deverá ter uma rentabilidade que cobre a inflação.
Passo 4 – Procurar formas de aumentar a receita mensal
Nos investimentos, a diversificação é uma das regras básicas a ter em consideração. Este princípio baseia-se no conceito de que não devemos colocar todos os ovos no mesmo cesto, pois se o cesto cair, iremos perder todos os ovos.
A minha pergunta é: nas nossas fontes de receitas não deveríamos aplicar o mesmo princípio?
Depender apenas de uma fonte de receita é um pouco arriscado, pois estaremos a mercê do que nos possa acontecer se perdermos esta fonte.
Por isso, a minha sugestão é, sempre que for possível, criar novas fontes de receitas.
Hoje em dia, com o avanço das tecnologias e a mudança dos nossos hábitos, criaram-se novos meios onde podemos empreender e criar novas fontes de receitas. Falo, por exemplo, do Youtube, uma ferramenta que podemos utilizar como entretenimento, onde podemos adquirir novos conhecimentos e até criar uma nova fonte de receita.
Imagina o caso de uma professora de Português que tem prazer em lecionar. Ao lecionar numa escola fica limitada apenas a ensinar um número reduzido de alunos e assim impactar um número reduzido de vidas.
Imagina agora que essa mesma professora decide criar um canal no Youtube e ensinar português nas horas vagas a um número inimaginável de pessoas pelo mundo fora. Após cumprir o número de horas de vídeos que o Youtube exige, passa a poder monetizar o canal (ganhar dinheiro com o canal), produzindo assim uma receita extra cujo valor poderá, a partir de certo momento, ultrapassar o montante que usufrui como professora na escola local. E o interessante é que, com os vídeos monetizados no Youtube essa professora estará a receber dinheiro inclusive enquanto dorme. Isso sem dúvida é uma fonte de receita a considerar para todos que possuem um talento que possa acrescentar valor na vida de outras pessoas.
Ao aumentar as fontes de receitas iremos produzir dinheiro que nos possibilitará ter uma folga financeira para o passo seguinte.
Passo 5 – Colocar o dinheiro a trabalhar por ti
A pergunta seguinte não me sai da cabeça e quero compartilhar contigo.
Sabias que podes colocar as tuas poupanças a trabalhar por ti, inclusive enquanto dormes?
Sim é possível. Após realizar todos os passos anteriores que citei, o teu foco será apender a investir.
Para uma boa parte de nós, os nossos pais sempre nos ensinaram a poupar, mas não nos ensinaram a investir, ou seja, não nos ensinaram a utilizar o dinheiro que já temos para gerar mais dinheiro.
Antigamente, colocar dinheiro no banco gerava juros consideráveis. Hoje em dia para a grande maioria, guardar dinheiro no banco é sinônimo de perder dinheiro, pois o juro que este dinheiro produz já não chega para cobrir a inflação.
Imagina que guardaste num banco em Portugal 1000,00 € no dia 4 de janeiro de 2021 com uma taxa de juro bruto de 0,2% ao ano. Isso significa que no dia 4 de janeiro de 2022 tinhas direito a mais 0,2% de 1000,00 € dos quais foram retirados 28% para o IRS – Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares, por outras palavras, no dia 4 de janeiro de 2022 tinhas a mais 1,44 € na conta, que juntando com os 1000,00 € iniciais totalizavam 1001,44 €.
A estimativa de inflação média anual de 2021 em Portugal foi de 1,3% de acordo com a INE – Instituto Nacional de Estatística. O que significa que o teu dinheiro em teoria ficou a valer menos 1,3% em janeiro de 2022. Digo em teoria, porque na prática o valor da inflação real é superior. Por outras palavras, para comprar um cabaz de produtos, que em janeiro de 2021 custava 1000,00 €, precisarias gastar 1013,00 € em janeiro de 2022.
Logo, quando digo, que a grande maioria das pessoas perde dinheiro quando o guarda no banco é disto que estou a falar. No exemplo acima a pessoa ganhou 1,44 € de juros líquidos (após retirar os impostos) no banco, quando deveria ter ganho pelo menos 13,00 € líquidos, apenas para manter o valor dos 1000,00 € que investiu inicialmente.
Por isso, para investir é necessário procurar investimentos que nos retornam (líquidos) muito mais do que a inflação. É por essa razão que não considero a subscrição de Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro Poupança Valor (instrumentos de dívida pública destinados à poupança) como investimentos, pois a data que escrevo este artigo nem sequer conseguem “bater” a inflação.
Em traços gerais, podemos investir as nossas poupanças de duas formas:
- Ativa;
- Passiva.
Investir de forma ativa
Investir de forma ativa exige por parte de quem investe um esforço maior, tanto a nível de conhecimento como em dedicação.
Quem investe de forma ativa tem sobre os seus ombros a responsabilidade de escolher todos os seus investimentos de forma responsável e seguindo as melhores práticas, de acordo com o meio onde quer investir.
Imagina que pretendes investir em ações da bolsa de valores a longo prazo, onde será necessário fazer uma análise fundamental (um estudo sobre os fundamentos) de modo a conhecer a(s) empresa(s) que pretendes comprar ações, isto requer:
- Ter a plena noção do que a empresa faz;
- Verificar se é uma empresa competitiva e se tem condições de o ser no futuro;
- Estar ciente de como são reinvestidos os lucros;
- Conhecer a governação da empresa e a sua reputação;
- Saber em que mercado a empresa está inserida e quais os desafios desse mercado;
- Conhecer as margens de lucro que a empresa tem nos seus produtos/serviços;
- Estar ciente das dívidas que a empresa possui e se tem possibilidade de as pagar;
- Apenas comprar as ações da empresa quando o seu preço está abaixo da estimativa do que poderia ser o seu valor real, também conhecido como valor intrínseco. Isto implica que estaremos a comprar com uma margem de segurança;
- Ter tempo e meios para acompanhar os resultados da empresa;
- Ajustar a tua carteira de ações sempre que necessário;
- Etc,
Investir de forma passiva
Caso não tenhas os recursos necessários para optar por investimentos ativos, que por norma podem gerar maior retorno ou não tens interesse, pois exigem maior esforço, tens a tua disponibilidade investimentos de forma passiva, mas que não invalida o conhecimento.
Investir de forma passiva também poderá estar associado a alguns investimentos que no início exigem algum tipo de esforço, mas que ao longo do tempo transformam-se em investimentos passivos.
Seguem alguns investimentos passivos onde podes aplicar as tuas poupanças:
- PPR – Planos de Poupança Reforma. Neste tipo de investimento, como em qualquer outro, convém conhecer a legislação e tirar partido de todas as vantagens fiscais;
- Comprar ações de empresas maduras que distribuem dividendos;
- Investir em ETFs (em traços gerais, são pacotes de ações comercializados na bolsa de valores que seguem um índice e cuja gestão é feita por computadores);
- Comprar uma casa para arrendar por longo prazo – no início exigirá mais de ti, mas com o passar do tempo tende a ser mais passivo;
- Etc.
Vale a pena mencionar que todo o investimento, quer seja de forma passiva ou ativa, possui riscos e obrigações legais. Antes de fazer qualquer investimento convém saber quais são os possíveis riscos, qual é a tua tolerância a riscos e que legislação se aplica neste tipo de investimento.
Em relação a investir na bolsa de valores, iremos abordar em mais detalhes em outros artigos, mas não queria deixar de referir que não devemos investir na bolsa montantes que a partida iremos precisar num período inferior 3 a 5 anos. Digo isto, porque a bolsa de valores possui alguma volatilidade (os preços das ações podem desvalorizar), mas o ganho está no investimento a longo prazo.
Conclusão
Muito poderá ser dito sobre como melhorar as nossas finanças. Procurei abordar o assunto de forma simples e com passos que acredito que podem servir de ajuda para quem quer tomar o controlo das suas finanças.
Compartilha connosco a tua opinião sobre os 5 passos que descrevemos e se aplicas algum deles na tua vida.