Com certeza, já reparaste que com o passar do tempo a tendência dos preços dos bens e serviços é de subir.
Se formos comparar os preços de a uns cinco anos atrás, por exemplo do pão, da carne, da eletricidade, do corte de cabelo, iríamos verificar que nada tem a ver com os preços praticados hoje.
A esta subida generalizada do preço dos bens e serviços dá-se o nome de inflação.
Qual é a razão de existir a inflação?
Os governos estão em análise continua da inflação, com o objetivo de manter o seu valor baixo e estável.
Na Zona Euro, por exemplo, todos os meses são coletados dados de preços de aproximadamente 700 bens e serviços representativos, de modo que os governos possam dizer com alguma precisão, qual foi o valor da inflação do mês anterior e, no início do ano é calculada a média anual da inflação do ano anterior.
Esta obsessão sobre a análise dos preços dos bens e serviços, permite aos governos tomarem medidas para reduzir o impacto da inflação e estabilizar a economia.
No século XVII, uma das razões do colapso do império espanhol, foi a explosão da inflação, pois naquela altura não havia esta monitorização que existe atualmente, de aferir o seu valor e agir de modo a controlar o seu impacto.
Algumas razões para a inflação:
- Aumento do custo de produção;
- Aumento da procura;
- Impressão de dinheiro.
Aumento do custo de produção
Com o aumento do custo de produção das empresas, para as mesmas continuarem a operar e a garantir as suas margens de lucro, acabam por passar o peso do aumento do custo de produção aos seus clientes finais.
Esse aumento, poderá ocorrer, por exemplo, por causa do aumento do preço das matérias-primas e ou dos produtos petrolíferos, uma das realidades que estamos a viver atualmente.
Devido a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e das sanções que estão a ser aplicados à Rússia, os preços dos produtos petrolíferos estão a aumentar, o custo da produção de energia a disparar e matérias-primas como o trigo, o milho, fertilizantes, etc, estão a escassear. Com isso, embora Portugal e muitos países não estejam diretamente envolvidos nesta guerra, acabam por sofrer as consequências, vendo o custo de vida a aumentar dia após dia.
Outro fator responsável pelo aumento do custo de produção, poderá ser o aumento do custo da mão-de-obra devido a revindicação bem-sucedida, por parte dos trabalhadores, pelo aumento salarial ou devido a falta de trabalhadores suficientes com as competências necessárias para satisfazer as necessidades das empresas.
O aumento das rendas, poderá também estar por trás do aumento do custo de produção, pois as empresas são pressionadas a passar o aumento da renda dos escritórios, terrenos, fabricas aos seus clientes finais.
Aumento da procura
O aumento da procura por determinado bem, onde a produção não consegue dar resposta, acaba por aumentar o preço deste bem.
Temos como exemplo, o uso de máscaras no início da pandemia causada pelo COVID19. Naquela altura, a procura era tanta, que o preço de uma máscara descartável, em Portugal, chegou a custar 1,00 € e, em alguns sítios, era vendida a unidade em vez de em caixas como acontecia antes da pandemia.
Para além de acontecimentos não previstos, o aumento do nível de vida da população também poderá provocar o aumento de procura, pois terão ao seu dispor mais dinheiro para gastar.
Na eventualidade do governo reduzir os impostos de forma significativa, irá por consequência aumentar a disponibilidade financeira da população, que por sua vez poderá resultar no aumento da procura de bens, que após um tempo irá provocar o aumento do preço destes bens.
Da mesma forma, a redução dos juros poderá despoletar um aumento do consumo a curto prazo. Se o juro sobre os empréstimos e créditos habitação baixar, poderemos, por exemplo, ser tentados a adquirir um novo carro, a comprar casa, logo haverá um aumento da procura, que por sua vez irá originar um aumento dos preços.
Se os governos e os bancos injetarem mais dinheiro nos mercados, a população terá mais dinheiro para gastar. Isto significa, que poderão pagar mais pelos mesmos produtos, o que fará aumentar os seus preços.
Impressão de dinheiro
Em momentos de maior necessidade de estimulação da economia e de modo a gerar mais empregos, os governos/bancos centrais tendem a adotar medidas como:
- Aumentar o número de notas em circulação, literalmente;
- Aumentar o seu endividamento;
- Permitir que os bancos possam emprestar mais dinheiro, ao autorizar que reduzam a sua reserva fracionária.
Em qualquer uma das opões acima referidas, acabam por aumentar o número de notas em circulação, o que faz com que as notas percam valor após algum tempo. Pois, existirão mais notas disponíveis para comprar os mesmos produtos.
Os governos/bancos centrais utilizam este princípio, arrojado, porque de acordo com o economista e filosofo John Maynard Keynes é necessário algum tempo para que o valor da moeda caia. Este período, entre o aumento do número de notas em circulação e o seu declínio em valor, com alguma sorte, poderá constituir uma janela de oportunidade para a encomia.
Durante a janela de oportunidade acima mencionada, as pessoas poderão comprar mais bens, as empresas poderão contratar mais colaboradores, poderão comprar mais maquinarias e por consequência aumentar a sua produção. Existirão mais bens no mercado para comprar até que a inflação volte a tornar-se num problema.
Segundo Keynes, um pouco de inflação poderia fazer crescer a economia. O argumento é que não interessa se os preços aumentem todos os anos, desde que os salários aumentem a um ritmo superior. Deste modo, os governos/bancos centrais podem utilizar a inflação como mecanismo para fazer crescer a economia.
Este raciocínio, defendido por Keynes, é visto como uma estratégia muito arriscada e é altamente contestada pelos economistas conhecidos como monetaristas, que acreditam que qualquer estratégia que aumenta a inflação, poderá causar um problema maior e deverá, a qualquer custo, ser evitada, independentemente da situação.
Porque é que a inflação é um problema?
A razão pela qual a inflação é um problema, deve-se ao fato de que nem tudo aumenta na mesma proporção e ao mesmo ritmo. Refiro aos salários, aos preços dos bens e serviços, aos preços das casas, etc.
Se tudo aumentasse na mesma proporção e ao mesmo ritmo, não haveria problema, pois, continuaríamos a manter o nosso poder de compra. Por outras palavras, se o meu salário aumentasse 10% e os bens e serviços aumentassem 10% ao mesmo tempo, então, o meu padrão de vida não mudaria.
Em 1946, na Hungria, a taxa média da inflação diária, era de 207%. Por exemplo, uma “carcaça” (nome que se dá a um tipo de pão em Portugal) que custava 0,20 € na segunda-feira, na terça-feira custava em torno de 0.41€ e 0.85€ na quarta-feira e assim por diante. Isto era um grande problema, porque o salário não aumentava na mesma proporção.
Naquela altura, na Hungria, as poupanças guardadas debaixo do colchão, perdiam o seu valor de um dia para o outro.
O caso da Hungria de 1946, é um exemplo extremo, mas situações semelhantes já aconteceram várias vezes na história e dá-se o nome de Hiperinflação.
A inflação é muito má para as nossas poupanças e manter a inflação baixa e a um ritmo controlado, irá recompensar todas as nossas poupanças e nos ajudará a efetuar planeamentos a longo prazo, porque saberemos com o que contar no futuro.
Conclusão
Na prática, o ideal seria manter a inflação baixa, algo que é extremamente difícil, porque seria necessário controlar diversos fatores, tais como:
- Custo das matérias-primas;
- Custo de produção;
- Custo da mão-de-obra;
- Descidas ou subidas dos impostos;
- Descidas ou subidas de taxas de câmbios;
- Crescimento da economia local;
- Crescimento da economia do país vizinho;
- Descidas das taxas de juros;
- Compra de obrigações;
- Impressão de dinheiro;
- Etc.
Por isso, cabe a todos os governos/ bancos centrais monitorizar e agir com sabedoria quando o assunto se trata da inflação e não ignorar a história.
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